22.3.05

DEFESA DE TESE

Nível: Doutorado
Candidata: Fraya Frehse
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lilia Katri Moritz Schwarcz
Banca: Profs. Drs. José de Souza Martins (FFLCH-USP), Roberto Augusto da Matta (PUC-RIO), Ana Lúcia Duarte Lanna (FAU), José Guilherme Cantor Magnani (FFLCH-USP).
Data/Local: 28/03/2005, às 14:00:00 Hs. - Salão Nobre (n.º 145)
RESUMO (da autora)
O que a civilidade nas ruas da cidade de São Paulo entre o início do século XIX e o início do XX revela sobre a maneira como essa sociedade se ajustou, em termos culturais, ao advento da modernidade ali em meio à decadência da escravidão? A fim de adquirir respostas para a questão, enfoco as regras de conduta vigentes naquele que foi assumido por estudiosos como espaço que sintetizaria a modernidade na “cidade” enquanto forma específica de povoamento humano: a rua. A literatura especializada sugere que a transitoriedade que define a modernidade se expressa, nas ruas, através da predominância de movimentos corporais que podem ser sintetizados como “circulação”, e na prevalência da impessoalidade enquanto princípio de interação nesse espaço. O que isso significa na São Paulo oitocentista, onde as ruas eram eminentemente lugares de permanência dos pobres, sendo que os indivíduos social e economicamente mais prestigiados as freqüentavam quase apenas em dia de missa ou de festa? Minha referência teórico-metodológica é o transeunte, protagonista da civilidade moderna nas ruas. Importa qualificar especificamente como a civilidade da qual o transeunte é personagem se torna regra nas vias centrais paulistanas entre as décadas de 1800 and 1860 e o intervalo entre as décadas de 1880 e o ano de 1917. Para tanto, debrucei-me sobre relatos de viagem, cartas, diários, memórias, crônicas e notícias jornalísticas, fotografias e postais cujos autores, ligados direta ou indiretamente às elites e nascentes camadas médias paulistanas da época, discorrem direta ou indiretamente sobre sua própria maneira de deslocar-se e de interagir nas ruas centrais nos dois intervalos em foco. Em função das vivências reais e imaginárias que tiveram desse espaço, os autores se transformam em “informantes” para a construção de uma etnografia que se constitui de duas partes de respectivamente três capítulos, referidos às regras de conduta envolvendo o comportamento corporal e as interações de estudantes da Academia de Direito, mulheres de elite, jornalistas e fotógrafos nas ruas em cada um dos intervalos temporais. Ambas as partes são separadas entre si por um Intermédio no qual reflito brevemente sobre o papel que mercadorias, infra-estrutura, idéias e políticas públicas (legislação e intervenções urbanísticas) teriam exercido na introdução de novas regras de civilidade nas ruas. Essa estrutura argumentativa permite compreender em termos antropológicos como se alteraram, ao longo de mais de cem anos, as regras de conduta que podem ter envolvido a movimentação física e as interações dos tipos humanos em foco nas ruas. Em meio à complexa dinâmica sociocultural que une, ao mesmo tempo em que separa, elites e incipientes camadas médias em torno da temática da civilidade nesse espaço no tempo, nota-se uma sociedade na qual todos tendem a circular, mas suas formas de interagir permanecem fortemente marcadas pela pessoalidade predominante no passado. Esta é indicativa de regras de conduta cerimoniais que asseguram que, ao menos para alguns estratos sociais, a rua seja – e se mantenha, com o advento da modernidade - sobretudo uma extensão física cerimonial da casa.